Todo mundo no abrigo

Essa é a situação nas moradias “provisórias” de Santa Catarina. Tanta gente foi à cidade de Blumenau em 2008, recursos foram anunciados, uma Medida Provisória – a de número 448 – foi editada para levar recursos as vítimas da enchente.

Nada. As pessoas continuam ali e só estarão recebendo casas graças ao programa Minha Casa, Minha Vida. Mesmo assim, o programa é algo acessível a todos interessados, não é um projeto específico criado para atender as vítimas da catástrofe.

Hoje completam 17 meses da enchente. Vocês devem estar pensando: “Ah, mas estão deve ter sido realizado algum projeto ou grande obra para evitar novas catástrofes com essa dimensão?”… Errado… Nada de novo.

O que aconteceu? Bem, o então ministro da Integração Geddel Vieira Lima entendeu que apenas os projetos apresentados pelos municípios baianos eram completos e atendiam os requisitos. Resultado? 90% das verbas em 2009 destinadas a prevenção de tragédias foram para a Bahia. Santa Catarina recebeu 0,2%.

Esse vídeo mostra a espera de famílias e a situação em que vivem: dividem conteineres transformados em banheiros coletivos, cozinhas em grandes áreas comuns e por aí vai.

Na hora do desespero todo mundo aparece para sujar o pé de barro… E depois???

Recomendo, a quem quer que esteja de passagem por Blumenau, uma visita a essas moradias provisórias. O chopp da Eisenbahn no happy hour pode parecer mais melancólico depois, mas os anúncios de socorro pós-tragédia e a conduta de políticos nunca mais serão vistas com os mesmos olhos.

Dona Guertha….

Guertha diante de sua casa em Blumenau: a única entregue na cidade

 Esta é dona Guertha Arber Karl.

 Mora no bairro Fidélis, em Blumenau, e é uma das únicas vítimas da enchente de novembro de 2008 que ganharam uma casa.  Não foi do Poder Público, foi contemplada pelo Instituto Ressoar. Cheguei a sua casa e fiquei impressionado com a triste história que a ex-moradora do Morro do Baú me contou. Na tragédia, dona Guertha perdeu os pais, marido, um filho de 28 anos e uma filha grávida de cinco meses.

 Tudo de uma só vez.

 Desde então, ela foi internada várias vezes com problemas de pressão alta e evita lugares onde há qualquer tipo de aglomeração de pessoas. A sua luta nos últimos meses foi para conseguir, enfim, construir um túmulo de mármore para o marido e o filho. “Sei que nunca mais serei a mesma”, diz. “Queria ter tido tempo de me despedir. Falar adeus”.

 1080 pessoas ainda moram em sete abrigos na cidade de Blumenau. Eu os visitei para elaborar um vídeo com algumas histórias. Dona Guertha foi quem mais me impressionou. Recolhe animais pela rua, mora com o único filho de 22 anos que sobrou na tragédia. A única recordação que tem família é a lembrança e três fotos 3×4 que estavam em sua bolsa. Bolsa aliás, que foi encontrada por acaso boiando em um rio do Baú.

 O resto, todo o resto, ficou debaixo de lama.

 Dona Guerta me impressionou não porque tem uma história de superação ou porque tenha se reerguido após o desastre. Muito pelo contrário.  Sua história não vai se transformar num filme de Hollywood, daqueles em que vemos pessoas em situação terrível se levantarem, vencerem e deixarem a platéia chorando… Que ela nunca mais será a mesma, disso qualquer um não tem a menor dúvida. Se vai, um dia, sorrir por qualquer coisa que seja, só o tempo vai dizer.

 O que mais me impressionou em dona Guertha foi o fato de ter percebido o quanto é cruel a herança deixada por aquele terrível mês de novembro de 2008.  Nem mesmo acompanhar os trabalhos de resgate me deixou tão angustiado….

 Tive vergonha de sequer pensar em lamentar ou reclamar de algo na minha vida.  

 

Chove

 

Chuva volta a atingir SC e deixa 1250 desalojados em 13 cidades

 

A chuva das últimas horas em Santa Catarina deixou 1250 pessoas desalojadas e outras 120 desabrigadas de acordo com as informações divulgadas pela Defesa Civil.

Já são treze os municípios que registraram danos devido aos alagamentos que começaram no início da noite desta quinta-feira. A situação mais grave é em Rio das Antas, cidade localizada a 360 quilômetros de Florianópolis, onde 600 pessoas precisaram deixar suas casas e pelo menos 30 propriedades acabaram danificadas pela força das águas.

Em Videira, a situação é bastante crítica depois que o rio do Peixe, que corta a cidade subiu e invadu casas e ruas. Alagamentos foram registrados em pelo menos dez bairros.

Além delas, as cidades de Caçador, Concórdia, Calmon, Dona Emma, Lebon régis, Presidente Getúlio, Rio Negrinho, Rio do Campo, Santa Cecília, santa Terezinha e Timbó Grande já comunicaram a ocorrência de estragos junto a Defesa Civil. Em algumas localidades, como Ouro e São Miguel do Oeste, a precipitação chegu a atingir 145 mm e 116 mm, respectivamente.

Técnicos da Defesa Civil estão monitorando a situação nos municípios afetados mas a estimativa é de que o número de desabrigados e desalojados seja ainda maior. Várias localidades ainda não enviaram informações sobre os estragos causados pela chuva da madrugada desta sexta.

De acordo com as informações do Centro de Recursos Ambientais de Santa Catarina (CIRAM), a chuva deve diminuir de intensidade na tarde desta sexta-feira. No entanto, a chegada de uma massa de ar frio derruba as temperaturas e pode trazer ventos com rajadas de até 60 km/h na região litorânea.

Hercílio Luz na outrora Nossa Senhora do Desterro: padroeira dos que vem de fora

 

Desterro…..

Estava pesquisando algo sobre o aniversário de Florianópolis quando achei uma oração de Nossa Senhora do Desterro.

 

Nada mais apropriado: na Itália, Madonna degli Emigrati ou Nossa Senhora do Desterro por aqui. É não só a padroeira de Florianópolis como de todos aqueles que foram obrigados a deixar sua pátria para se refugiarem ou a fim de procurar trabalho no estrangeiro.

 

Florianópolis se chamava Nossa Senhora do Desterro até 1894, quando teve o nome alterado pela lei 111, de autoria de Hercílio Luz – não a ponte, e sim o engenheiro que governador do estado. A santa do Desterro é considerada pelos religiosos como a Mãe Amorosa para todos os que, saudosos de sua terra natal, imploram cheios de fé e de amor o auxílio a fim de encontrarem compreensão e simpatia na terra adotiva.

Cheguei aqui em fevereiro de 2004. Desembarquei no Aeroporto Internacional Hercílio Luz repleto de esperanças e mais ainda de dúvidas. Dúvidas já não tenho mais. Esperança eu nunca deixarei de cultivar. Acho que é a minha padroeira também, de toda Florianópolis e de milhares outros “forasteiros” que amam a cidade e por aqui aportaram.

 

O dia de Nossa Senhora do Desterro é 2 de abril.